Grandes empresas voltam às compras
3 de fevereiro de 2014

Por um lado, se no decorrer da crise iniciada em 2008 a prioridade das grandes empresas passava por desinvestir em ativos “non-core”, assistimos hoje a largas quantias de dinheiro acumuladas nos balanços destas empresas
Miguel Valente Bento
Por um lado, se no decorrer da crise iniciada em 2008 a prioridade das grandes empresas passava por desinvestir em ativos “non-core”, assistimos hoje a largas quantias de dinheiro acumuladas nos balanços destas empresas
Depois de um ano de 2013 marcado por incerteza face às políticas económicas Europeia e Americana, a par da redução do crescimento económico na China, 2014 ainda em fase embrionária, parece ter chegado como um ponto de viragem de ciclo na atividade de Fusões e Aquisições.
No mês passado Suntory, a holding japonesa de bebidas alcoólicas, anunciou a compra da rival Beam, numa transação avaliada em 16 mil milhões de dólares, a segunda maior transação de sempre da indústria. Também a gigante Google adquiriu a Nest Labs, por perto de 3.2 mil milhões de dólares enquanto a Lenovo se prepara para comprar o negócio de servidores de gama baixa da IBM por 2.3 mil milhões de dólares. Será esta uma tendência a perdurar no resto do ano? Factores estruturais indicam que sim. Por um lado, se no decorrer da crise iniciada em 2008 a prioridade das grandes empresas passava por desinvestir em ativos “non-core”, assistimos hoje a largas quantias de dinheiro acumuladas nos balanços destas empresas. Paralelamente, importantes catalisadores como o optimismo face à recuperação económica europeia, a subida de 30% do S&P 500 em 2013 bem como o baixo nível histórico das taxas de juro, que por sua vez cria oportunidades de financiamento barato para potenciais compradores, deverão contribuir para a explosão da atividade de F&A.
Adicionalmente, a indústria de “private equity” fechou o ano de 2013 com a quantia recorde de 1.07 triliões de dólares por investir, uma subida de 14% face a 2012 (Source: Preqin), pelo que vê-se agora na pressão de usar tais quantias ou ter de pedir mais tempo aos investidores, sob pena de exibir baixas taxas internas de rentabilidade. A acumulação de reservas por parte destes fundos, também conhecido como “dry powder”, potenciará não só maior procura por bons negócios, mas também um aumento da competição pelos mesmos, perspectivando-se elevadas avaliações.
Por outro lado, o fenómeno crescente de “shareholder activism” poderá forçar empresas como a Apple ou a Microsoft a devolver dinheiro aos acionistas sob a forma de recompra de ações próprias, refreando o espírito aquisitivo.
Indústrias como Tecnologia, “Healthcare”, Farmacêutica, e especialmente Telecomunicações parecem ser as apostas mais fortes. Esta última aparece como candidata a fortes movimentações dado ser uma indústria em forte consolidação, fruto da falta de crescimento orgânico. Veja-se o exemplo da fusão entre as nossas conhecidas Portugal Telecom e Oi, anunciada no passado mês de Outubro, que criará um operador global com mais de 100 milhões de clientes. Por sua vez, a Vodafone vê-se na iminência de receber perto de 130 mil milhões de dólares, em dinheiro e ações, como consequência da venda de 45% detidos na “joint venture” Verizon Wireless à parceira Verizon, terceiro maior negócio corporativo de sempre, podendo ter já identificado alvos a colocar na lista de compras.
Assim, será de esperar um retorno das grandes empresas às compras no decorrer deste ano, mesmo após plena época de saldos de inverno.