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Durante a passada semana, a elite mundial reuniu-se na Suíça, em Davos, para mais um “World Economic Forum” onde se debateram temas desde o abrandamento do crescimento da economia chinesa à crise do petróleo.

Estas discussões prolongar-se-ão durante 2016 e muitos terão algo a dizer, tal como Ben Bernanke, ex-chairman da Reserva Federal norte-americana (FED), que considera exageradas as reações relativas ao abrandamento da China ou como o Goldman Sachs que prevê que o petróleo poderá chegar aos 20 dólares em 2016, depois de reportar que a oferta superou a procura em 1,5 milhões de barris por dia, no quarto trimestre de 2015.

Sempre me causou alguma confusão que uma fonte de energia não renovável fosse um bem acessível a grande parte da sociedade, independentemente dos níveis de oferta. Mas a verdade é que assistimos a um enorme excesso de produção, iniciado há cinco anos pelos produtores de “shale oil” nos Estados Unidos, e que é agora agravado pelo abrandamento do consumo da matéria-prima na China assim como pelo recente levantamento das sanções ao Irão, que poderá trazer para o mercado mais de 500.000 barris por dia.

No entanto, enquanto se discute o rumo da economia “asiática-ocidental” perante o abrandamento da China e o agravamento da crise do petróleo, tem-se assistido lentamente à degradação das economias emergentes e fronteiriças e à queda da sua falsa sustentabilidade alicerçada nas receitas do petróleo.

A Venezuela, onde o petróleo representa 95% dos ganhos em moeda estrangeira do país, enfrentou até Setembro de 2015, segundo fontes oficiais, uma inflação de 141% e uma contração da economia de 7,1%. Todavia, muitos analistas apontam para uma inflação de cerca de 200% e, segundo o FMI, a economia terá contraído aproximadamente 10%. O Governo ainda tentou segurar a sua moeda através de três taxas de câmbio legais, incluindo uma que valoriza o bolívar venezuelano em 6,35 por cada dólar. Contudo, esta taxa de câmbio é de exclusivo acesso a membros do Governo, sendo que no mercado negro a moeda poderá valer 130 vezes menos.

Temos ainda exemplos mais próximos, tal como a economia angolana e (mesmo) a brasileira, as quais se estão a provar insustentáveis na conjuntura económica atual. Desde o verão de 2014 que as decrescentes receitas do petróleo têm também pressionado o real brasileiro, que desde então depreciou mais de 75%, assim como a moeda angolana, que em 2015, terá depreciado, oficialmente, 25%. À semelhança do verificado na Venezuela, a moeda angolana poderá valer até três vezes menos face ao dólar no mercado negro e o uso de cartões de crédito fora do país encontra-se limitado.

O continente africano, incluindo Angola, foi visto por algumas empresas como uma “emergency exit” após a crise económica mundial de 2008, o que, conjuntamente com alguns crescimentos de mais de 10% pelo continente fora, levou mesmo o The Economist a mudar a sua posição. Enquanto em 2000 na capa da revista britânica intitulava-se África como o “The Hopeless Continent”, em 2011 a sua perspetiva muda para “Africa Rising” e, por fim, em 2013 para “Aspiring Africa”. Foi esta África que dentro da “normalidade” dos preços de três dígitos do petróleo inundou a economia mundial com o consumo patrocinado pelos conhecidos “petrodólares”. No entanto, são estes dólares que vão entrando em volumes cada vez menores nos cofres dos países exportadores, conduzindo à depreciação das suas moedas, ao aumento dos preços das importações e consequentemente a uma inflação desregrada.

Muitos defendem que nos resta esperar que países como a Venezuela e Angola voltem à “normalidade” acoplada aos altos preços do petróleo. Contudo, acredito que apenas com reformas estruturais profundas nestas economias é que estas poderão retomar os antigos ritmos de crescimento de forma sustentável. Aguardarei assim com bastante curiosidade as decisões da OPEC, o rumo do petróleo, o “next step” destes países e a nova capa do The Economist.

Article published on January 24th, 2016 · Jornal de Negócios

Tomás Gaivão Ribeiro

 

 


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