Bernardo Lupi 1O porquê de o preço do petróleo continuar a cair tem sido um dos temas mais comentados e analisados recentemente. Em Junho de 2014, o preço do petróleo bruto Brent atingia valores históricos na ordem dos $115 por barril, enquanto no final do mesmo ano teria caído para metade, situando-se nos $57. Actualmente, este encontra-se abaixo dos $50. 

Em meados de 2014, a combinação de uma procura enfraquecida com uma oferta crescente levou ao início desta tão alarmante queda dos preços do petróleo. Como causas atribui-se o final de muitas das instabilidades geopolíticas e económicas e o facto de a procura de petróleo na Europa e na Ásia ter começado a enfraquecer – sobretudo devido à desaceleração no crescimento económico tanto na Alemanha como na China. Os EUA, outrora o maior consumidor de petróleo a nível global, registava também grandes cortes na sua utilização enquanto países como a Indonésia e o Irão cortavam nos subsídios relativos aos combustíveis.

A 27 de Novembro, a Arábia Saudita opunha-se a países constituintes da OPEP, como a Venezuela e o Irão, que pretendiam um corte no volume produzido do cartel de forma a recuperar os preços elevados. Não há dúvidas de que tal escolha trará consequências negativas a nível financeiro para os sauditas estimando-se que o défice atinja cerca de 14% do PIB, em 2015. De momento, a opção é de não ajustar a produção, o que acentuou ainda mais a queda dos preços, e fazer uso das enormes reservas de divisas estrangeiras de cerca de $740 mil milhões para equilibrar as contas.

Muitos justificam esta decisão pelo facto de esta vir a prejudicar a economia de dois países com divergências profundas com a Arábia Saudita: o Irão e a Rússia. Ambos precisam de preços altos para sustentarem as suas economias já de si muito frágeis. Posto isto, a supremacia árabe sobre os iranianos, históricos rivais, poderá ser assegurada ao mesmo tempo que é aplicado uma espécie de castigo à nação russa por apoiar o regime de Bashar Al-Assad. Com uma economia bastante dependente da produção de petróleo e gás natural e com as receitas do primeiro a ascenderem a 45% do orçamento da Rússia, estima-se que o PIB russo irá contrair no mínimo 4,5% em 2015. Como consequência, o valor do rublo colapsou, o que tem conduzido a um pânico generalizado e a uma inflação galopante, à medida que as importações de produtos se tornam drasticamente mais caras. No Irão, a economia finalmente a recuperar após vários anos de recessão levava a previsões do IMF de que o crescimento seria cerca de 2,3% em 2015, projecções estas corroboradas pelos baixos preços que desequilibraram orçamentos. Além disto, a OPEP encontra-se agora numa “guerra de preços” com os EUA que encontrou uma alternativa ao petróleo do cartel reduzindo a sua dependência. No presente momento, os preços reduzidos poderão pôr em causa a viabilidade de várias operações americanas de “Shale” outrora rentáveis a preços mais elevados. Sendo assim, esta decisão justifica-se também pela reconquista da quota de mercado da OPEP, assente numa estratégia elementar de “pricing out” de produtores de “Shale” dos EUA. Por fim, esta reacção enfraquece o estado islâmico que se financia em grande parte através das receitas que gera no mercado negro de petróleo.

Será que os preços do petróleo irão permanecer baixos? Na realidade, é bastante difícil de prever. A verdade é que as previsões apontam para ajustes na produção nos EUA já no ano de 2015. Muitos especialistas defendem que os governos deveriam aproveitar os baixos preços para apostar em reformas necessárias e em alternativas para atingir a eficiência energética. No entanto, isto é difícil de garantir, uma vez que preços tão atrativos e a crença de bastantes políticos de que assim se manterão no médio prazo não fornecem qualquer incentivo a apostar em alternativas de forma a diversificar a exposição a futuros choques nesta tão importante “commodity” para a mundo atual.

Article published on January 18th, 2015 · Jornal de Negócios

Bernardo Lupi · Presidente do Nova Investment Club


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