Bernardo Lupi 1O Banco Espírito Santo (BES), outrora a instituição bancária de renome e eleição não apenas em Portugal arriscou perder todo um esforço construído durante várias décadas.

Certamente, opções particulares de estratégia tomadas incorretamente levaram o banco a ser a abertura de cartaz em todos os media durante o último mês. A “bolha” criada ao nível das holdings do GES e também da Rioforte não deu mais para se conter e como em qualquer incidente fez uso de um pretexto, por vezes insignificante, para rebentar. O assunto dispensa grandes apresentações. No entanto, a divisão de opiniões face ao que o futuro nos reserva permanece, derivado de uma falta de informação explícita sobre todas as operações do grupo, o que tem gerado desconfiança relativamente ao seu verdadeiro valor.

Um ciclo inédito começa, com a família que lhe concede o nome afastada não da melhor forma da gestão do banco. O homem escolhido para suceder a Ricardo Salgado é Vítor Bento até aqui presidente da SIBS e com provas dadas das suas capacidades. A sua entrada juntamente com a escolhida equipa é antecipada de urgência e constitui uma lufada de ar fresco que numa tentativa de demonstração de confiança no futuro do BES permite-lhe recuperar em parte o fôlego.

Tendo em conta este cenário, a pergunta que permanece no ar diz respeito ao que podemos esperar daqui para frente. Embora o BES se encontre capitalizado, existem diversos riscos capazes de provocar uma onda de choques que certamente afetariam o banco em maior escala. Mesmo tendo comunicado dispor de uma folga de solidez de 2.1 mil milhões de euros acima do mínimo exigido pelo Banco de Portugal, valor o qual é superior à sua exposição ao grupo GES (1480.5 milhões), este constitui o seu maior risco atual juntamente com toda a exposição indireta daí resultante capaz de ultrapassar aquele valor que muitos questionaram não ser fidedigno. Outro grande risco incorrido pelo BES encontra-se na exposição dos seus clientes de retalho avaliado em cerca de 917 milhões. A provisão de 700 milhões registada pelo ESFG para garantir este mesmo reembolso poderá não vir a ser suficiente não sendo claro também o impacto que a proteção de credores pedida recentemente poderá ter neste valor. Finalmente, é ainda importante referir o risco que o banco possui relativamente aos problemas existentes no BES Angola. Com uma linha de crédito na ordem dos 3000 milhões e tendo em conta que 70% da carteira de crédito do banco angolano encontra-se em risco de incumprimento, poderão vir a surgir, mesmo com uma garantia soberana concedida pelo estado angolano, problemas para o BES nem que seja em termos de liquidez imediata.

Caso o banco não possua a capacidade financeira para os enfrentar poderá ter de recorrer a uma injeção de liquidez. Esta, por sua vez, poderá ser realizada inteiramente de um modo privado pelos próprios acionistas, não correndo o risco de verem as suas posições diluídas, ou caso necessário por intervenção parcial ou total do estado. Este último, implicará a perda dos investimentos dos atuais acionistas, constituindo assim um fator de pressão para que estes participem no esforço. Em cima de isto tudo, o BES encontra-se ainda sob o olhar atento de fundos de capital de risco e até mesmo outros bancos que podem ver uma boa oportunidade para expandir as suas operações.

Simultaneamente, a Vítor Bento cabe a difícil tarefa de tomar as rédeas em tempos de aperto. Terá de conciliar um esforço de auditoria e reavaliação a todas as contas do banco ao mesmo tempo que não destrói ainda mais a sua imagem pública transmitindo confiança num futuro melhor e consequentemente conseguindo acalmar o pânico gerado nos mercados. O que o futuro nos reserva é difícil de apontar, no entanto, o caminho a traçar deverá ser na direção de restabelecer a posição que o banco BES dispunha no mundo financeiro tentando dissociá-lo dos problemas criados que o colocaram numa posição débil e de maior risco, mas que na verdade não lhe retiram o seu devido valor e solidez.

Article published on July 21st, 2014 · Jornal de Negócios

Bernardo Lupi – President of Nova Investment Club


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